Os netos
Até agora, 132 casos de apropriação de crianças foram resolvidos pelas Abuelas e com o auxílio da CoNaDI e do BNDG
Guillermo, Manuel, Tatiana e Claudia são exemplos de apropriados que reencontraram suas famílias após anos de busca – sejam dois ou 29 anos depois
Conhecer a verdade
Parte dos netos encontrados foi localizada pelas Abuelas, enquanto outros acabaram sendo identificados por iniciativa própria, ou seja, eram pessoas que tinham dúvidas sobre a própria origem e foram atrás da resposta para confirmar se eram filhos de desaparecidos da ditadura militar. Independentemente do início deste trajeto, o processo de busca pela identidade é quase sempre acompanhado por intensas sensações e receios. Um resultado negativo do BNDG significa muitas vezes uma porta fechada diante do difícil processo de ir atrás da sua origem. Já uma resposta positiva quanto à análise genética, embora traga a verdade, pode ser também doloroso para quem descobre não ter vínculos biológicos com a família com quem viveu durante toda a vida.
Há ainda quem seja contra a existência do Banco (e até das Abuelas) e argumente que as restituições geram novos traumas nas pessoas que já foram crianças traumatizadas. Mas, segundo a psicologia, não existe base para assegurar essa ideia, que surgiu a partir de uma comparação equivocada de uma renomada psicanalista francesa.
Ainda desaparecidos
Ter 132 netos restituídos significa que ainda há cerca de 370 casos por resolver. Quando as Abuelas se organizaram, elas entenderam que a luta teria de ser coletiva para dar frutos – a partir daí, o reencontro com cada neto passou a ser comemorado como se fosse com o próprio.
A busca incessante tem seus obstáculos, porém. Altos e baixos permeiam o processo que se estende por décadas até hoje. Mas os familiares de desaparecidos seguem firmes à procura das meninas e meninos apropriados durante a ditadura e que hoje devem ser adultos de 40 a 50 anos de idade.
Próxima geração
O BNDG vislumbra também uma tecnologia capaz de identificar os bisnetos para acelerar a restituição dos netos. Localizando seus filhos, que são netos dos desaparecidos, automaticamente mais casos de apropriação seriam resolvidos. O método ainda está em vias de desenvolvimento e deve demorar um pouco, mas o papel dos bisnetos vai muito além da extração de amostras de sangue.
Sem ter enfrentado o trauma da apropriação pessoalmente, os bisnetos podem apoiar seus pais na busca pela própria identidade e incentivar que eles procurem resolver as questões para as quais não têm as respostas.